terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amores de Verão




Mais do que a Primavera, o Verão é, por excelência, a época dos amo­res. E a razão por que isso aconte­ce não deriva do acaso. Existem diversas teorias e condicionantes que parecem contribuir.

Redescobrir o corpo. Durante o ano os relacionamentos amoro­sos têm falta de sensualidade. As inquietações, o stress e a fadiga são os piores inimigos do desejo e a chegada do Verão revela-se o momento ideal para acordar uma libido adormecida pelos dias mais frios. O corpo, finalmente descoberto das roupas de Inverno, revela-se nas suas formas, cores e odores que despertam sensações e atracções. Geralmente apresen­tam-se peles bronzeadas, sem rugas de preocupações, distendidas pelo conforto da liberdade de movimentos.

Associada a esta exposição corpo­ral parece estar a teoria que diz sermos ainda influenciados pelas feromonas, hormonas associadas à atracção e disponibilidade se­xuais, especialmente importantes nos animais não racionais. Para nós terão passado para segundo plano, mas muitos cientistas crê­em que ainda têm um papel muito importante nos mecanismos de atracção entre humanos.

Verdade ou não, o que parece é que o calor favorece a libertação de odores corporais que incluem estas hormonas a que inconscien­temente continuamos sensíveis.

Tempo livre. Suspender a mono­tonia do quotidiano, interromper rotinas, autorizar-se a fazer na­da, tirar partido das horas extra de luz, sair e passear, tudo nesta altura parece contribuir para reen­contrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas. A época de Verão é eleita pela maio­ria de nós para gozar as merecidas férias grandes. Sem imposição de horários, esquecemos os pequenos males do quotidiano que nos dei­xam de mau humor e subitamente descobrimos ter tempo para cui­dar de nós, o que nos deixa agrada­velmente felizes e bem dispostos. Interessa-nos pouco mais do que o dia-a-dia e mesmo as situações sociais daqueles que conhecemos são irrelevantes. Provavelmente travamos conhecimento com pessoas que nos agradam, mas que em circunstâncias normais nunca teríamos conhecido. A rotura do momento propicia a união de duas pessoas que fora deste tempo certamente nunca se encontrariam. O que conta é o prazer de estar junto.

Uma questão de luz. O sol influencia todos os nossos com­portamentos. Dependemos total­mente da sua luz para o nosso me­tabolismo e biorritmos. Em países em que predominam as horas de luz e a presença do sol a expressão emocional é mais expansiva, como nos países latinos, enquanto que nos países do Norte da Europa, por exemplo, com menos horas de sol, essa característica é mais contida.

Estas são algumas das condições que o Verão e as férias reúnem para que o amor "ande no ar", especial­mente o amor romântico, efémero por natureza. Mas raramente es­tes amores perduram até à estação fria. Ainda que o amor de Verão se­ja intenso e muitas vezes recípro­co, raramente resiste à prova do tempo, da distância e da realidade. Quando estas contingências re­gressam, muitas vezes assistimos a verdadeiras transmutações do outro. Aquele que tinha agradado pela sua espontaneidade, alegria de viver e capacidade de aventura modifica-se radicalmente. O seu penteado torna-se mais formal, as suas roupas transformam-se em verdadeiras carapaças, más­caras que tem de envergar para enfrentar a sua profissão. Apenas alguns encontros extraor­dinários parecem resistir ao fim do Verão. Mas serão eles capazes de resistir à distância?

Longe da vista. Além do Verão ter acabado, a distância geográ­fica também é uma realidade em muitos amores de Verão e pode ser uma vantagem que ajuda a manter uma relação que tanto prazer deu, não só porque mantém o drama, como evita o desgaste. Permanece a incerteza, a impaciência da espe­ra de um sinal do outro. A alegria dos reencontros predomina e mu­da o humor, pois são tão raros que há que aproveitá-los bem.

A distância tem ainda a virtude de não favorecer a rotina. Estar fora de contacto impede que os hábitos de casal se instalem, tornando cada encontro uma oportunidade para novas descobertas. Os assuntos de conversa nunca se esgotam. Mais: esta distância permite continuar uma vida de celibatário, sem a ne­cessidade de estar comprometido ou de fazer cedências imediatas.
Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas e autorizar-se a fazer nada, tudo
no Verão parece contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas.
E evita discussões, porque rara­mente os elementos do casal estão em "dia não". Vêem-se tão pouco que não faz sentido estragarem tudo com críticas ou desentendi­mentos.

Mas o reverso da medalha existe e revela-se quando impede a criação de hábitos de partilha caracterís­ticos e necessários numa vida de casal, como, por exemplo, conhe­cer verdadeiramente a pessoa por quem nos apaixonámos no Verão. Mesmo que a maioria dos roman­ces de Verão não dure, a verdade é que não nos devemos privar deles, até porque nos permitem aprender a conhecer e experimentar outras características que desconhecía­mos em nós.

Autora: Catarina Mexia (XIS)

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