quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Auto-conhecimento


autora: Catarina Mexia


A capacidade de nos relacionarmos com os outros está, em primeiro lugar, ligada à capacidade de nos auto-relacionarmos. Daí que o autoconhecimento seja cada vez mais procurado, seja através de terapia ou de técnicas de meditação oriental. Experimente!

Cada um de nós procura o seu in­terior motivado, na minha opi­nião, pela procura de segurança pessoal. Quero saber quem sou para ter mais segurança em mim. Quero saber quem sou, para saber quem procuro ou o que procuro no outro. E há medida que vou cres­cendo esta questão é cada vez mais importante. Quem sou eu? O que necessito? O que me atrai, o que me cativa, o que me satisfaz? Fala-se de um mundo novo, de um mundo despojado de certezas, de afirmações absolutas, de cami­nhos correctos, de lugares segu­ros. Há um risco maior, há solicita­ções permanentes, há obrigações inadiáveis, há trabalho constante e muito pouco tempo para nos de­dicarmos a nós próprios e ao ou­tro. Daí que quando escolhemos os amigos ou o companheiro com quem queremos partilhar a nossa vida sejamos mais exigentes e se­lectivos nessa escolha, que tende a ser cada vez mais verdadeira e in­dependente de questões sociais ou culturais.


Crescer com os desafios. Pe­rante novos desafios podemos to­mar duas opções: recusar o desafio e procurar refúgio no que é segu­ro, familiar e protector ou aceitar o risco e experimentar novos papéis, situações e sensações.
Crescer implica enfrentar medos, ter a coragem de desafiar pressu­postos antigos, questionar ver­dades absolutas, ponderar cami­nhos tidos como certos, aceitar correr riscos. Muitas vezes prefe­rimos viver agarrados a tradições, costumes, regras, verdades que nos fazem sentir seguros (e prova­velmente infelizes), do que aceitar novas maneiras de ser e fazer, de sentir, de pensar, de estar.
Crescer implica realizar mudanças pessoais, alternando entre avanços e retrocessos, movimento e estag­nação, busca de novas sensações ou refúgio nas antigas. Pode significar dor, desvinculação, separa­ção, mas também segurança, for­ca. alegria e determinação. Uma mudança pessoal vai para além da mudança observável. A mudança física, objectiva e concreta é mais simples de realizar do que a mu­dança interior. Com maior ou me­nor dificuldade, mudamos de casa, de emprego, de cidade, alteramos hábitos de vida ou adaptamo-nos a novas circunstâncias. No entanto, a mudança interior necessária pa­ra nos adaptarmos a novos desafios da vida é muito mais dura e difícil de conseguir.
A mudança interior permite maior capacidade de adaptação à vida e de realização pessoal. Realizar uma mudança implica enfrentar medos, desafiar a au­toridade, estar preparado para assumir a responsabilidade pelos próprios actos.
Perante acontecimentos que desa­fiam a nossa maneira de pensar e de agir, ou perante situações que nos obrigam a tomar opções, po­demos optar por dois caminhos: a estagnação ou a evolução.


Crescer ou estagnar? Se as pressões ou os desejos para a es­tagnação prevalecem, tendemos a negar as oportunidades de vi­da que nos surgem, recusando-as ou encontrando justificações que nos permitem pô-las de parte sem nos sentirmos culpados. Impedi­mo-nos de arriscar numa relação porque temos medo de ser mago­ados, ou prolongamo-la indefini­damente no tempo por medo de ficarmos sós; não aceitamos um novo emprego aliciante porque o actual é seguro e fixo, ou recusa­mos uma nova tarefa porque te­mos medo de não sermos bem su­cedidos a fazê-la; não partimos em viagem com medo de não conse­guirmos voltar ou andamos sem­pre de lado para lado porque te­mos medo de parar.
Neste caminho não conseguimos aceitar que temos medo, que po­demos errar e que, por isso, op­tamos por viver estagnados mas "seguros" a um modo de vida. Normalmente agarramo-nos aos pressupostos que nos foram incu­tidos na infância, seguimos as pi­sadas daqueles em que confiamos, deixamos os mais próximos deci­dir o nosso rumo. Definimo-nos mais por aquilo que partilhamos com o outro do que pelas caracte­rísticas que nos são próprias ou ex­clusivas. Há uma tendência para a fusão com o outro.

Mais desafios. "Eu sou a rela­ção que formo com o outro; per­der a relação significa perder-me a mim mesmo". Esta situação po­de ser muito angustiante e obri­gar a um grande desgaste pessoal, pois na corrida para satisfazermos os desejos do outro deixamos pa­ra trás os nossos. Bloqueamos os nossos impulsos e necessidades em favor das vontades do outro. Não expressamos a nossa verdade com medo de perder o outro. Se, pelo contrário, as pressões ou o desejo pessoal para a evolução se sobrepõem, optamos por arris­car, realizando mudanças que são movidas, decididas e iniciadas por nós. São mudanças que têm asso­ciadas mais dúvidas e incertezas, do que a segurança e solidez, pois o caminho a traçar é novo, diferen­te do conhecido e experimentado e, consequentemente, mais desa­fiante. Movemo-nos no sentido de construção da nossa identida­de, fortalecimento e crescimen­to pessoal. Nestas situações agi­mos. Somos capazes de organizar o tempo em função das necessi­dades pessoais, de dizer "não" ao outro, de defender princípios di­ferentes dos que nos foram incu­tidos. O adolescente é capaz de di­zer "não" às pressões dos amigos; a rapariga é capaz de terminar a re­lação em que sofre e assumir a vi­da de forma autónoma; a mulher parte para a viagem que necessita, enfrentando o mundo de frente; o homem inicia uma terapia porque sabe que sozinho não é capaz de resolver os seus problemas.Forte e autêntico. Ter a cora­gem de arriscar e de enfrentar os obstáculos que esta acção implica é por si só um sinal de mudança, uma certeza de que acreditamos que a vida pode ser diferente. O caminho é pautado por dor ou so­frimento, mas acreditamos que o conseguimos trilhar. É certo que podemos não acertar sempre nas opções que fazemos ou magoar­mo-nos com algumas delas, mas sabemos que temos capacidade pa­ra realizar as mudanças e tornar­mo-nos mais fortes e autênticos. É neste momento que cada um é o verdadeiro actor e autor da sua vi­da. Na dúvida do que fazer, expe­rimente!


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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

SOU tímido


Autora: Catarina Mexia


Corar, gaguejar ou sentir que fal­tam recursos para lidar com de­terminadas situações são sinto­mas comuns da timidez. Parece que o corpo trai a mente e mostra a todos o que implicou tanto esfor­ço a esconder, ou seja, a incapaci­dade em lidar com terceiros.


O que é? Uma pessoa tímida tem dificuldade em afirmar as suas ne­cessidades, deixa-se ultrapassar na fila do supermercado sem recla­mar, não consegue tomar a pala­vra em reuniões e costuma isolar- se a um canto em eventos sociais. A timidez é uma forma ligeira de fobia social, uma perturbação bas­tante mais grave que pode ser pa­ralisante na vida de uma pessoa e deve ser tratada antes de conduzir ao isolamento e à depressão.
Um tímido é uma pessoa que de­mora mais tempo do que as outras a adaptar-se a novas situações so­ciais, que desencadeiam nele uma ansiedade forte e menos controlá­vel do que na maioria das pessoas.

Tem geralmente uma imagem ne­gativa de si mesmo e apresenta au­to-estima fraca. Não crê nas suas capacidades, o que resulta na fal­ta de autoconfiança. Os mais tímidos passam a vida a adiar o cumprimento dos seus sonhos e a arrependerem-se amargamente dessa demora. Incapazes de dar o primeiro passo, não conseguem chegar aos outros, ficando sem­pre à espera que alguém dê o pri­meiro passo na sua direcção.

Infância fragilizada. Uma lei­tura possível da timidez reporta- nos à intolerância perante a inca­pacidade de ser bem sucedido. É comum os tímidos não tomarem iniciativas com receio de estra­garem tudo. Têm em si uma an­siedade antecipatória negativa, o que apenas lhes permite antever cenários extremamente derrotis­tas. Para eles, a critica é sinóni­mo de rejeição. E se as suas ideias são reprovadas, tal é sentido como humilhação. Estes sentimentos só vêm reforçar ainda mais a certeza de que não dar nas vistas é a me­lhor e mais saudável atitude. Outra explicação para este fenó­meno remete para a infância. Por exemplo, uma criança que cresceu num ambiente familiar demasia­do protegido, onde se sentiu sufo­cada ou excluída num ambiente demasiado adulto, ou ainda uma criança com falta de afecto ou compreensão que sofreu conflitos familiares, é uma boa candidata a comportar-se de forma tími­da. Também o falhanço escolar e as frequentes mudanças de escola são factores que não ajudam.


Falta de segurança. Geralmen­te, a timidez traduz-se por uma atitude receosa, uma perturba­ção excessiva e uma falta de segu­rança no comportamento peran­te terceiros. Mas pode também esconder-se por trás de um comportamento agressivo, que deno­ta, muito simplesmente, ausência de autoconfiança.
As manifestações são simultanea­mente fisiológicas e psicológicas. Entre as primeiras, contam-se transpirar excessivamente, sen­tir falta de ar, rubor ou palidez acentuados, gaguejar e alterações da voz (que se torna praticamen­te inaudível ou ininteligível), ri­gidez muscular e tremores. No plano psicológico destacam-se o sentimento de paralisia (que tor­na impossível a mais pequena re­acção) e atenção demasiado cen­trada no objecto do medo (neste caso, as outras pessoas).
Mas a timidez pode e deve ser en­carada como uma percepção men­tal distorcida que só faz sentido em função da presença do outro. Ninguém é tímido sozinho! Daí que outra característica dos tímidos passe por pensarem que estão a ser constantemente observados ou julgados de forma negativa, de­senvolvendo, assim, uma sensibi­lidade especial para qualquer ti­po de crítica ou comentário sobre a sua aparência e conduta.

Acabar com a timidez. Nin­guém é tímido na sua casa, con­sigo mesmo, no seu próprio meio, com a sua família mais próxima. A timidez desenvolve-se quando essa mesma pessoa ultrapassa os limites da sua intimidade e se en­volve em situações desconhecidas e novas relações sociais. A insegu­rança e o mal-estar que assaltam o tímido manifestam-se unica­mente quando se vê rodeado de estranhos. Para ele é muito difí­cil deixar de pensar em si mesmo. Leva-se "demasiado a sério", pe­lo que se torna muito difícil con­centrar-se em qualquer outra ac­tividade. Não tira proveito de um jantar ou de uma festa, por exem­plo, pois está constantemente pre­ocupado com o que os outros es­tão a pensar dele. Também tem sérias dificuldades na esfera pro­fissional, uma vez que se encontra mais preocupado em não destoar do que a brilhar.
No comportamento generaliza­do que todos temos de procura de aprovação — caracterizado pe-
las tentativas de causar boa im­pressão nos outros —, os tímidos não se sentem merecedores dessa aprovação e os seus esforços vão apenas no sentido de diminuir a desaprovação. A pressão social re­percute-se especialmente sobre os tímidos que têm um baixo concei­to de si mesmos e que consideram de forma muito modesta as suas capacidades.


Existe tratamento? A terapia cognitivo-comportamental é o tratamento preferencial para es­tas situações. Podem ser utiliza­dos psicofármacos associados, especialmente quando a ansieda­de ou os sintomas fisiológicos são muito intensos ou existem outras patologias associadas. Esta forma de terapia ajuda a despistar com­plexos, frustrações e cognições distorcidas da realidade. Adap­tada a todas as idades, parece ser muito eficaz, pois permite afron­tar progressivamente as situações ameaçadoras. A tónica é posta nas causas actuais do comportamento problemático e menos nas causas inconscientes.
Utilizam-se, para isso, técnicas de controlo da ansiedade, como relaxamento e controlo da respi­ração, treino de competências so­ciais, técnicas para corrigir pensamentos disfuncionais,
outras inseridas num processo psicoterapêutico, geralmente de curta duração.
A prática de uma actividade des­portiva é um meio de integração num grupo, onde se promovem trocas e companheirismos, que ajuda a lutar contra o isolamento em qualquer idade.


Virtudes e defeitos. A timidez não é necessariamente um inibidor da expressão de personali­dade. Numerosos comediantes, cantores, personalidades públi­cas provam-no aparecendo em ce­na para melhor ultrapassar uma timidez que os angustia. Exprimir-se sem receios é aceitar o risco de sermos postos em questão, de enfrentarmos a desaprovação e de nos mostramos tal qual so­mos, com virtudes e defeitos. Mas é também partilhar e enriquecer­mo-nos no contacto com o outro: sermos reconhecidos como uma personalidade, como um todo que vale a pena conhecer.


No site da Oficina de Psicologia pode encontrar informação e formulário de inscrição para os grupos de Fobia Social