segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Feliz Natal ?


Autora: Catarina Mexia

Disfarçar a tristeza, a solidão ou o luto durante o Natal é uma situação que apenas acrescenta sofrimento à dor que sentimos. São estados de alma que, no entanto, podemos gerir melhor.


O Natal e o fim de ano são datas incontornáveis. Os seus sinais invadem-nos e subitamente o mundo que nos rodeia fica colorido com luzinhas brilhantes, o Pai Natal espreita em cada esquina e o irresistível chamamento das montras leva- nos a contemplar os desejados presentes. O Natal entra em nossa casa através da publicidade na televisão. Invariavelmente, a mensagem é de felicidade generalizada. Familiares, colegas de trabalho e amigos parecem apostados em ganhar a corrida das compras. Associado a todas estas questões está implícita a alegria e o entusiasmo antecipado de quem vai ter um grande prazer em receber aquela prenda tão desejada.

Muitos de nós acabamos por associar a noção de felicidade, quem sabe repetindo o prazer da magia dos natais da infância. São momentos mágicos, onde a harmonia familiar é reinventada, os brindes se sucedem e a esperança num futuro melhor é reafirmada. São dias especiais, dias em que é quase obrigatório estar feliz e por aí se mede a nossa sensação de integração social.

Disfarçar a tristeza. Por estar tão associada à felicidade, a quadra natalícia é uma altura em que a dor, o desgosto e a solidão não deveriam estar presentes e se tornam difíceis de gerir. A ausência de alguém muito querido é ainda mais sentida. Faltam forças para resistir à agitação familiar, para organizar a consoada e para estarmos felizes, especialmente para com os mais novos.

A pressão de ter que corresponder às expectativas dos outros, de disfarçar a tristeza para não estragar a festa ou de nos sentirmos obrigados a conviver são situações que apenas acrescentam sofrimento à nossa dor. Todavia, estas podem ser geridas com menos sofrimento.

A palavra de ordem terá que ser "protecção", permitindo-nos não fingir gostar do insuportável e deixar que os amigos e familiares conheçam os nossos sentimentos. Devemos procurar as suas opiniões, a sua ajuda sobre a melhor forma de lidar com estes momentos, porque ignorá-los não fará a dor desaparecer mas partilhá- los poderá ajudar a suportar a solidão. Fazê-lo com antecedência é também importante. Partilhar o nosso estado de espírito vai permitir que os outros ajustem as suas maneiras de agir, quebrando o tabu paralisante de não falar na perda ou na dor a ela associada.


Direito aos sentimentos. Ás crianças deveria ser autorizada a liberdade de exprimir a saudade e tristeza e de questionarem os adultos sobre a melhor forma de lidarem com a situação sem constrangimentos. A sinceridade e disponibilidade dos adultos são necessárias para que isso seja possível. Numa época em que toda a gente exibe sorrisos bem dispostos, estar triste é destoar. Contudo, todos nós podemos conquistar o direito aos nossos sentimentos dissonantes. Embora seja habitual festejar de acordo com rituais socialmente estabelecidos, estes podem cumprir-se de forma diferente, em acções que tenham significado individual, com sentido próprio, que integrem a dor e ajudem a curá-la.

Separação. O divórcio é outra das situações particularmente difíceis para viver na época natalícia. É necessário reorganizar a família, construir novas formas de celebrar e novos motivos de celebração. O círculo social transforma-se, especialmente no primeiro ano. Os amigos do outro, ou de ambos, podem já não fazer parte das relações mais próximas. As crianças continuam a esperar um Natal cheio de prendas. E o consumismo que nos caracteriza não é compatível com a perda de capacidade financeira resultante de uma separação. Boa disposição e muita criatividade precisam-se.