quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um dia sem birras

Autora: Fátima Ferro
Psicóloga Educacional e Clínica

Os comportamentos desajustados das crianças é um tema que desde sempre preocupou pais e educadores.
Face a uma dificuldade por parte das crianças em gerir as suas emoções, expressam-nas de forma mais violenta e persistente, levando ao adulto a necessidade da sua contenção.
É fundamental que os pais passem tempo de qualidade com os seus filhos, falando com eles, brincando, valorizando os seus sucessos, promovendo uma atenção positiva.

As crianças estabelecerão relações mais gratificantes e positivas e brincadeiras mais salutares se ao seu redor forem cultivadas emoções gratificantes como a alegria, satisfação, bem-estar, tranquilidade e amor. É importante uma relação de compreensão em que os limites são estabelecidos de uma forma firme e com afecto, por exemplo, em vez de dizermos “Não fazes nada de jeito, estás sempre a bater no teu irmão!”, porque não dizer “a mãe ou o pai ficou triste com a tua atitude de bater no teu irmão, vamos ver em conjunto uma outra solução para esta situação” . Ou seja primeiro dizemos à criança qual é a emoção que é sentida, depois o que está errado e o que queremos ver acontecer, e consequências se o comportamento se mantêm, “Se continuares a bater no teu irmão, vais ter de …”.


As crianças por vezes expressam emoções sem controlo, que não são acolhidas e que encontram como veículo de expressão uma atitude mais impulsiva e um comportamento incorrecto. São manifestações que frequentemente, por não terem quem possa “ver ou acolher” se repetem até que alguém perceba que aquela criança está a solicitar que olhem para ela, que a ajudem a crescer bem.
As crianças gritam, choram, dão pontapés, agitam os braços, deitam-se no chão, atiram brinquedos e outros objectos, não querem comer, não querem tomar banho ou ir para a cama, querem aquele brinquedo, etc. Se conseguirmos não pensar no volume das birras, no desânimo que criam, e a impaciência a que nos levam, conseguimos ver um lado positivo, no fundo as birras são uma manifestação saudável de um processo de desenvolvimento da personalidade infantil, elas servem para exprimir emoções, sentimentos e vontades.

Elas querem conquistar algo sem compasso de espera.
Então o que podemos fazer nestas situações?
Deixamos-lhe aqui algumas sugestões que poderão ajudar a lidar com alturas difíceis:


- Primeiro que tudo, mantenha a calma – uma das mais difíceis, mas que poderá ser bastante eficaz para que os comportamentos não entrem em escalada sucessiva. Respire fundo, mantenha a persistência e uma voz assertiva mas sem elevação e se for necessário afaste-se da situação até as coisas acalmarem;

- Não ceda às birras, se ceder vai reforçar o comportamento negativo transmitindo a ideia de que as birras podem levar a criança a obter aquilo que quer. Se não ceder, ensinará à criança a lidar com a frustração, que ela não pode ter tudo, existindo regras e limites que têm que ser respeitados, e que muitas vezes temos que lutar pelo que queremos;
Em caso de casais separados ou da possibilidade de a criança se deslocar para casa dos avós, as regras deverão ser as mesmas em qualquer um dos lares;

- Seja clara(o) e objectiva (o) nas regras que quer que a criança cumpra, evitar dizer: ”Porta-te bem”, porque a criança não sabe ao certo o que isso significa, opte antes por descrever o comportamento que quer ver instalado, “Quero que vás comigo ao hipermercado sem pedir para fazer compras de brinquedos…”;


- Pode associar uma recompensa: “Se……..então……..” ou seja “Se fores ao hipermercado e conseguires não pedir brinquedos, quando viermos para casa poderás….”;

- Sempre que possa ignore a birra, não olhe para a criança, não lhe responda. Temos consciência do quanto isto possa ser difícil, e no inicio pode não resultar mas têm que ser persistente porque quando a criança perceber que não produz qualquer efeito vai deixar de as fazer;

- Evite a violência física, por si só a birra já é violenta gerando suficiente desconforto;

- Não ameace com castigos que sabe que não vai conseguir cumprir.

Salientamos que o comportamento infantil difere de criança para criança e o que resulta com uma pode não resultar com outra, temos que adequar cada intervenção a cada situação e à idade da criança em causa.

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