quinta-feira, 9 de julho de 2009

O lado lunar das férias

Com o Verão vem a luz que nos anima a planear pequenas escapadelas aos tons cinzentos que o nosso dia-a-dia tende a escolher. E as férias com promessas de evasão, de descanso e de despreocupação, como um breve intervalo em tudo aquilo que nos desagrada. O que raramente nos lembramos é que, com o Verão e as férias também surgem algumas complicações e que convém precavermo-nos e, sobretudo, estar prevenidos para lhes podermos reagir.

Uma dessas complicações resume-se na palavra “stress” que nos ajuda a agregar reacções tão diversas como irritabilidade, falta de atenção e concentração, dificuldades de memória, volatilidade de humor ou um tom mais depressivo, uma sensação de alerta permanente, impulsividade de decisões, desmotivação… A lista é elevada e, a inaugurar esta época surge um pico de stress, por três efeitos: o do acumular do cansaço, a reacção do organismo quando nos apercebermos de que há um fim à vista para o esforço sustentado de vários meses e o próprio stress de planificar e decidir férias.

Enquanto que o primeiro dispensa apresentações, já o facto de termos uma quebra de energia só por sabermos as férias próximas é aparentemente paradoxal. Bem, imagine que todo o seu organismo é capaz de conversar: você dir-lhe-ia que já falta pouco para poder descansar; ele responder-lhe-ia: “ufa, então já posso começar a desmobilizar parte da energia que tenho vindo a reunir”. No esforço elevado, estamos sustentados por todo um contexto fisiológico que tem por fim permitir-nos cumprir com os nossos objectivos – quando damos a ordem de desmobilizar (o que acontece, frequentemente, por antecipação, como quando nos começamos a imaginar de férias), subitamente apercebemo-nos de falta de energia e uma dificuldade elevada em percorrer o resto do caminho até às férias.

Decidir, planear e gerir os vários detalhes envolvidos nas férias pode, igualmente, ser uma fonte acrescida de stress, algo mais para fazermos adicionalmente a todas as outras que não são opcionais.

E, com o calor, o corpo reage num esforço de adaptação a um novo ambiente externo, produzindo sintomas físicos que, para quem tenha tendência a uma reactividade ansiosa, podem ser assustadores e fazer desencadear fortes picos de ansiedade. Nalgumas situações, podem mesmo instalar-se perturbações ansiosas que requerem acompanhamento psicológico, como é o caso da perturbação do pânico.

Um outro factor importante nas férias e que pode criar alguma sensação de desequilíbrio são as alterações relacionais no contexto familiar que ocorrem com alguma frequência; ou, melhor dizendo, o facto de se tornar aparente, por força do convívio, as distâncias que se foram cavando ao longo de todo um ano de pressa e de preocupação com as obrigações quotidianas.

E quando as férias estão na fase da despedida, também ocorrem alguns fenómenos específicos. Entre a melancolia de quem sabe que tudo vai ser retomado e muita dessa realidade é desagradável e a vontade de introduzir modificações à forma como se leva a vida, abre-se um espaço de reflexão que, bem aproveitado, pode fazer toda a diferença no que diz respeito ao nosso bem-estar e auto-satisfação.

Após o descanso, surgem um momento privilegiado: as cartas da mudança estão na nossa mão! Queremos mesmo assumir uma nova perspectiva sobre a vida e implementar alterações que nos permitam percorrê-la na direcção que acreditamos ser a mais adequada para nós? Malas desfeitas, no regresso a casa, talvez seja tempo de iniciarmos uma nova viagem, um pouco diferente.
Foto de Luis Rocha dos Reis, Studio4u

1 comentário:

  1. Olá Oficina de Psicologia,
    Gostei imeso do vosso post.
    De facto é um stress antes das férias, sempre a pensar quando é que elas chegam.
    Um stress durante, para gozar ao máximo.
    E um stress depois, quando já acabaram.

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